OPINIÃO

No último dia 1° de agosto, a Prefeitura de Serranópolis realizou o cerimonial de entrega de uniformes escolares no templo da Assembleia de Deus, espaço religioso que não guarda neutralidade em sua simbologia. A entrega efetiva dos uniformes ocorreu no salão social da mesma igreja, local que vem sendo utilizado com frequência para eventos municipais nos últimos meses. 

O fato ganha contornos mais complexos quando observamos que a prefeita Zilmar Carvalho é conhecida por sua atuação no púlpito de uma igreja local, e que sua administração conta com diversas figuras ligadas a igrejas em cargos-chave.

É importante ressaltar: a fé pessoal de gestores não é – e não pode ser – o problema. A questão emerge quando as linhas entre administração pública e instituições religiosas se tornam difusas, criando situações em que o Estado parece se apropriar de espaços confessionais para atividades que deveriam ser estritamente laicas.

A realização de eventos oficiais em espaços religiosos pela Prefeitura de Serranópolis merece uma reflexão cuidadosa sobre os princípios que regem a administração pública. O recente caso do cerimonial no templo da Assembleia de Deus em 1° de agosto levanta questões relevantes sobre a adequação de tais locais para cerimônias públicas.

Embora o uso de salões sociais de instituições religiosas possa ser compreensível em situações excepcionais, a realização de atos oficiais em espaços propriamente sagrados demanda ponderação. O Estado brasileiro é laico por definição constitucional, o que implica a necessidade de neutralidade religiosa em suas ações e escolhas de espaços institucionais.

É importante considerar que espaços religiosos, por sua própria natureza, carregam simbologias específicas que podem não representar igualmente todos os cidadãos. Em uma sociedade plural como a nossa, locais verdadeiramente públicos e neutros garantem a inclusão e o respeito à diversidade de crenças e convicções.

Serranópolis já dispôs de estruturas municipais adequadas para eventos oficiais, como o auditório do antigo Armazém de Cultura. A desativação desse espaço deveria ter sido acompanhada da criação de alternativas públicas equivalentes, evitando a dependência de instituições particulares, sejam elas religiosas ou não.

Do ponto de vista da gestão pública, é fundamental planejar e manter espaços municipais adequados para eventos oficiais. Essa não é apenas uma questão de princípio, mas de organização administrativa e respeito ao caráter plural da sociedade.

A administração municipal tem o dever de garantir espaços públicos adequados para suas atividades, preservando o caráter laico do Estado e assegurando que todos os cidadãos se sintam igualmente representados e acolhidos em eventos oficiais.

Jornal O Serrano, 7 de agosto de 2025

Serranópolis, GO.

Posted in , ,

Deixe um comentário